sábado, 2 de junho de 2012

Conto Infantil



O VALE DAS FADAS
Genha Auga

            Duas meninas, em segredo, saíram numa aventura em busca de um lugar misterioso e que será revelado nessa história.
            Tudo começou ao iniciarem suas primeiras leituras...
Encontravam-se toda semana numa roda de conversas da escola e depois escolhiam um livro para lerem juntas. Como todas as crianças, entregavam-se ao mundo da fantasia e imaginavam príncipes, princesas e lindos castelos.
Certa vez, ao terminarem uma leitura, surgiu-lhes a ideia de irem ao encontro de um lugar descrito em uma das histórias. Levadas pelo fascínio e com a certeza de que ele existia, muniram-se de comidas, agasalhos e cheias de entusiasmo, seguiram nessa aventura.
Caminharam por um bom tempo até que encontraram uma trilha de pedrinhas tão brilhantes que pareciam preciosas e por ela seguiram. Encontraram passarinhos que cantavam e as encantavam, borboletas coloridas voavam por entre flores das mais lindas espécies e abelhinhas procuravam o pólen e néctar saboroso que havia nelas. Animaizinhos de olhos arregalados as observavam e curiosos avisavam aos outros dessa visita inesperada.
Ao final da trilha depararam-se com uma linda garota de cabelos longos e cacheados, presos numa tiara feita de seda rosa e com brilhos dourados como os olhos dela, trajava um vestido azul, leve, esvoaçante e com florzinhas brancas, tinha um sorriso nos lábios rosados como a face. Curiosa, perguntou às duas meninas:
            - Olá, quem são vocês, de onde vieram?
            - Viemos de uma escola que nos ensinou a ler e lá aprendemos sobre o mundo e as histórias que a ele pertence. – respondeu Iara que tinha a pele morena queimada pelo sol, cabelos no ombro e olhos escuros.
            - E o que vieram fazer por aqui? Indagou a linda menina loura.
            - Gabriela de cabelos curtos e ruivos, olhos verdes, com pequenas sardas no rosto e tão charmosa que parecia uma bonequinha, respondeu - Queremos encontrar um lugar maravilhoso e cheio de mistérios que lemos em uma história, para contar às crianças da nossa escola e, olhando atenta para a menina com quem conversavam, perguntou:
            - Como é seu nome? Onde fica sua casa? O que têm por aqui?  
            - Me chamo Sofia. Aqui eu moro e muitas outras meninas. Nascemos das estrelas que caem na terra e viram sementes que darão as flores. Alimentamos-nos de peixes, mel, frutos, água de nossas fontes. A energia do sol revigora nossas vidas, a chuva mantém em equilíbrio nossas almas, o luar protege nossas belezas e um segredo nos mantém unidas.
            Segredo! Entreolharam-se as meninas. Seria o mistério que foram desvendar? – pensaram! Iara logo se adiantou demonstrando para Sofia seu interesse e perguntou se poderiam conhecer o lugar.
            - Podem sim, respondeu. Entrem, venham nos conhecer.
            Logo avistaram um cenário deslumbrante; uma montanha não muito alta, com uma luz avermelhada que iluminava o topo fazendo parecer estar bem pertinho do céu, o vento soprava abrindo um caminho que as levariam até montanha.
            Gabriela franziu a testa e com os olhos apertadinhos pensou em subir até o alto, mas, ao mesmo tempo uma energia pairava ao redor que lhe impediu de seguir adiante.
            Sofia, percebendo o que se passava, explicou a elas que “lá em cima” estava Deus, que as protege.
            - Só podemos subir, continuou explicando, quando temos alguma tristeza ou dúvida para esclarecer, “Ele” nos estica a mão com ternura, conversa conosco com sua voz forte e nos deixa seguras. Aqui ele é nosso único pai!
- E onde estão as mães? Perguntou Iara.
- Somos todas irmãs como já disse, somos filhas das estrelas, meninas abençoadas.
            - Gabriela insistiu em querer saber para que existia aquele lugar e o que faziam lá.
            - Sofia respondeu tranquilamente e explicou; nesse lugar fomos designadas “filhas da natureza”. Ela é nossa mãe! Trouxemos para cá uma “muda” de cada pouquinho do meio ambiente que aqui guardamos e cuidamos. Quando o mundo acabar, teremos sementinhas para outro mundo criar.
            - Aqui, continuou Sofia, não somos ameaçadas por nada, nenhum outro ser esteve nesse lugar, somente vocês conseguiram nos encontrar.
            - E você não tem medo de nós? Disse Iara.
            - Não, se nos encontraram, é porque nosso Pai permitiu que vocês aqui chegassem.
            - E o segredo que as une, vai nos contar? Perguntou Gabriela muito curiosa.
            - Se o Pai deixar, respondeu Sofia, saberás. Ele mesmo dirá.
            Passaram o tempo todo admirando o encanto que ali havia, conheceram outras meninas e passaram momentos felizes conversando e brincando.
Maravilhadas com a energia que as envolvia, aconteceu então o melhor...
            Deus, do alto da montanha, as observou e as chamou para conversarem; revelou a elas que estavam num lugar sagrado e que embora tão pequenas, respeitavam e preservavam tão bem a natureza e em seus corações havia amor pelos animais, plantas, mar e tudo mais. Eram as meninas que iriam da Terra cuidar e, somente crianças como elas podiam ler as histórias mágicas por onde ele, através de sua mente, as conduziu para lá.
            - Sofia que fora escolhida para auxiliar nessa missão, olhou para as garotas e disse: - Vocês são crianças especiais, por isso conseguiram chegar e agora conhecerão nosso segredo e a nós se unirão.
            Surgiu uma nuvem em forma de balanço, sentaram-se nela e seguiram por cima da montanha. Uma chuva fina e deliciosa rapidamente formou um arco-íris e atravessaram por ele onde o mistério lhes seria revelado...
            Encontraram várias garotas voando em volta das cores do arco-íris, balançando condões por onde saiam estrelinhas que se espalhavam pelo ar e assim descobriram que estavam no Vale das Fadas. Para lá, levaram dentro dos seus corações, mudas da mãe natureza e com elas, nesse encontro cheio de magia, permaneceram alegres explorando a beleza do lugar onde ficaram para sempre.
Anoiteceu, caiu sobre elas uma chuva de estrelas abençoadas e, cansadas, adormeceram...
 Quando acordaram, tinham virado lindas fadas!

Crônica publicada em jornal online www.gazetavaleparaibana.com


LUTAR OU CONTINUAR ASSIM
                                         Genha Auga – Jornalista MTB: 15.320



O imediatismo tomou conta de nossas vidas e na velocidade que tudo acontece, caminhamos para a exaustão e trocamos caminhos por atalhos; nossas crianças pulam etapas da infância e homens e mulheres com medo de envelhecer perdem o bom senso.
A cada momento são lançados no mercado, livros, músicas e filmes na mesma proporção em que surgem produtos milagrosos para emagrecer, anabolizantes para definir o corpo, ervas milagrosas para curar doenças, tudo em nome da beleza e sucesso imediato, sem primar pela saúde, qualidade e ética.

A hierarquia está às avessas; filhos mandam nos pais, alunos desrespeitam professores, bandidos enfrentam polícia, menores vão para a noite sem os adultos, assassinos vivem livremente e nós ficamos presos em casa.
Nossa realidade está cada vez mais cruel, enfrentamos quimeras de uma democracia que queima pontes que nos fazem perder conexão com as verdades. Estamos acumulando informações e não conhecimentos, permitimos que a televisão despeje em nossas salas a violência sangrenta e suja e programas que “emburrecem”. Estamos enfrentando o caos, mães competem com ratos para garantir a comida e com drogas para não perderem seus filhos.

Como marcar um compromisso com o futuro se estamos nas mãos de manipuladores que nos destroem, pisoteando valores imprescindíveis para formação do caráter e substituindo por outros que determinarão um futuro que não será dos melhores?

Precisamos lutar, mesmo que a solução pareça cada vez mais distante. Se não dermos o primeiro passo, nunca a alcançaremos, caminhemos unidos pela força e façamos obras de nossa própria autoria, deixaremos um passado limpo e teremos vivido intensamente por uma causa justa e, só assim, nossas crianças aprenderão para depois construir. Nossa luta é imprescindível para soltar as amarras desse confinamento moral e social a que estamos submetidos e sair desse quadro de miseráveis e alienados ao qual nos emolduraram.

Necessitamos reaver nosso direito de ir e vir, de estudar, comer e viver dignamente.

Boca vazia não enche barriga, mente vazia não enche a alma e sem luta não se chega a nada.